terça-feira, 22 de setembro de 2009

Nas paredes de minha memória...




Nas paredes de minha memória
repousam quadros com pose de você
levitando com cores fortes a sábia espera.
Tiro o pó.
Tiro o ranço.
Inauguro um rancho
gancho para outra vida.
Uma vida não vivida.
Uma vida esquecida.
Aquecida pelas cores fortes
nas paredes de minha memória.

silponzil

quarta-feira, 10 de junho de 2009




"Vou andar até tirar
você pelos poros
Esgotar-te-me até sentir
que minei você
Esvaziar-te-me,
Lavar-me-te,
Purgar-te-me,
em meus furúnculos...
aduncos beicinhos.
Cuspir você!
Não ter pudor na hora
em que lavar meu sexo.
Quero esvaziar...
lavar...
purgar...
pulsar...
mas,
te amar!"

Rossiley Ponzilacqua

Trabalhos


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Outro lugar

Miguel Anselmo


Outro lugar

"Noutro lugar deixou-se ficar nua
e deu o seu corpo ao lobo mais faminto da cidade.

Noutro lugar abriu a casa ao inimigo
e disse-lhe toma tudo quanto queiras.

Noutro lugar dançou com tanta água
que se lhe humedeceram as entranhas
e apodreceu por dentro.

Noutro lugar veio tanta gente vê-la
que o aplauso se transformou em tempestade de Verão
e a cabeça estalou-lhe de tanta névoa e tantos caracóis
e tanto Agosto e tanto fogo.

Noutro lugar rendeu-se
deixou-se levar pelo instinto noutro lugar
e deitou-se para sobreviver aos seus pés
e lamber as feridas do caminho...
e viveu noutro lugar a vida de rastos.

Noutro lugar,
não neste."

Almudena Vidorreta Torres


(Trapézio, sem rede)

(original reproduzido em 23 Pandoras - Poesía alternativa española, selecção e prólogo de Vicente Muñoz Álvarez, Ediciones Baile del Sol, 2ª edição, Tenerife, 2009, p. 21.)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Do Desejo

Miguel Anselmo


IV
"Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?"

Hilda Hilst

domingo, 10 de maio de 2009

O contrato

Miguel Anselmo

"Ele a traía sempre às terças-feiras. Ela o traía às quintas.

Certo sábado ele pediu: ponha percevejos no meu arroz.

Ela fez uma comida picante. Acendeu velas azuis. Colocou um tango.

Eles se abraçaram. Sem sentidos.

E aí veio o sangue.

Na sua boca.

Das suas entranhas.

Ela raramente o achou tão sensual.

No domingo ela pediu: espanque-me.

Ele bateu de cinta no seu rosto. Arrancou-lhe um dedo

com o alicate.

Às 10 em ponto eles apagaram as luzes.

Segunda-feira ambos tinham de levantar cedo."

Aglaja Veteranyi

* tradução : Fabiana Macchi

sábado, 2 de maio de 2009

Poema


Miguel Anselmo



"Caminho entre o nada e o de repente

E talvez a saudade me engasge eternamente

Saudade de tudo o que um dia eu fui

E me perdi

Vagando pelo mundo

Soltando os verbos imundos

No escuro do abismo

do peito da solidão amargurada

cantei os últimos versos

sorri o último encanto

no sonho do inimigo

lá eu estava

correndo em sua direção

para o beijo derradeiro

Luz, apareça!

E me encontrarei

Nos teus espetáculos absurdos!"


Alice Xavier

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Câmara de Ecos











Jakub Kujawa's



"Cresci sob um teto sossegado,
meu sonho era um pequenino sonho meu.
Na ciência dos cuidados fui treinado.

Agora, entre meu ser e o ser alheio
a linha de fronteira se rompeu."

Waly Salomão