quarta-feira, 28 de maio de 2008

...Procurei ...



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"Procurei que as coisas acontecessem

procurei no céu olhares misteriosos
e na terra o sabor sereno dos diospiros
plantei algumas árvores
e desenhei e escrevi e pintei
terá sido em vão porque não se procura
nada nos céus nem na terra
porque de nada vale o sabor de um fruto
ou um desenho um vocábulo uma cor
ainda assim
quando não esperava
encontrei uma pequena esfera no chão
desconheço o seu uso mas trago-a na mão"

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ser apenas água....















ser apenas água

"As imagens atravessam os meus olhos e caminham para além de mim. Talvez eu vá ficando igual à armadilha da qual os pescadores dizem ser apenas água."

Sophia de Mello Breyner Andresen

Para onde vou...


"Não sei para onde vou
por isso irei por onde não sei"

S. João da Cruz




quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Radiografia Corporal






















Projeto Radiografia Corporal - Miguel Anselmo/Roberta Lima

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

Do desejo (trechos) - Hilda Hilst

Corpos

















segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Não Coisa















..."Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós."

Não Coisa- Ferreira Gullar

















Miguel Anselmo - Lodi- Itália

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

o que te segura?


















O que te segura?
É o que te prende?
Ou o que te prende?
É o que te segura?

O que te segura?

Zeite ist Kunst !






















"... Aguentou-se à tona até onde lhe foi possível, e agora, perdida a última razão de lutar que lhe restava, deixou-se afundar..."

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos


"Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!"

Mario Quintana

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"olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas"

Ana Cristina Cesar

O Meu Impossível


Minh’alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!
Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito.É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!…
Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me […]


Florbela Espanca

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Tu Queres Sono: Despede-te dos Ruídos


"Ante o que dói e o que dorme apenas pó e reticências."

Sol Sangüineo /Salgado Maranhão


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"Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono."

Ana Cristina Cesar

Nada basta...



...nada basta.

Nada é de natureza assim tão casta que não macule e perca sua essência ao contato furioso da existência."


Carlos Drumond de Andrade