quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Nossos corpos

Kate Macdowell


" Quebradiço são nossos corpos, invulneráveis nossos átomos."


Jean Claude Carrière

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

VELHO TEMA


Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
é uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arriada de dourados pomos,

Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

(Vicente de Carvalho, Santos-SP, 1866-1924; poeta Realista)

Foto: Misha Gordin

Do livro das Horas...



"Deixa que tudo te aconteça: beleza e pavor.
Só é preciso andar: nenhum sentimento é o mais longínquo.
Não te deixes apartar de mim.
É perto a terra
a que chamam vida."

Rainer Maria Rilke, " O Livro de Horas - Livro Primeiro", 1899

Foto: DDiArte

trabalho de jardim, se a sombra

"Se o percurso das abelhas ficasse desenhado no ar, como nos veríamos?

Se a sombra fosse branca, encontrar-te-ia ?"



Cristina Tavares


Foto: DDiArte

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

MENINO CHORANDO NA NOITE




Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora.
O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas.
E no entanto se ouve até o rumor da gota de remédio caindo na colher.
Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora, em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso que escorre do queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas).
E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando.




Carlos Drummond de Andrade

foto: DDiArte

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

esta Habitação

"Embora as grandes Águas durmam,
  Que ainda assim são o Abismo
  Não se pode pôr em dúvida -
  Nenhum Deus vacilante
  Acendeu esta Habitação
  Para a deitar fora -"

Emily Dickinson






Foto: DDiArte

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

dilacerado



"O mundo prodigioso que tenho na cabeça. Mas como me libertar e libertá-lo sem me dilacerar? E antes ser mil vezes dilacerado do que retê-lo em mim ou enterrá-lo. Estou aqui para isso, dou-me perfeitamente conta."

Franz Kafka, "Antologia de Páginas Íntimas"

Foto: DDiArte

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Sono



O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.

Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.

O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.

Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.

Meu Deus, tanto sono!...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Não perdi nada...

"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. 

 Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram todos os dias felizes que se apagaram. 

Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

- Miguel Sousa Tavares

quarta-feira, 14 de julho de 2010

De todo coração ! Centro Cultural Casarão de Austregésilo de Athayde


 Centro Cultural Casarão de Austregésilo de Athayde

Convida para Exposição - De todo coração !

Entrada franca

Abertura 22 de julho de 18h às 22h
Visitas agendadas das 14h às 19h - Contatos: (21) 2265-3536 producao@clarasandroni.com.br


"Para Miguel Anselmo, o coração representa um modo de explicar o
mundo a partir da exposição de um detalhe, de uma autonomia a
partir de uma imagem simbólica e de seu deslocamento.
As obras de Miguel Anselmo procuram ampliar esta esfera de
relações simbólicas, deslocando a imagem do coração para o
terreno delicado e terrível das coisas mortas, do canibalismo e da
degustação: coração é algo desmistificado e laicizado.
A facilidade com que o autor desloca essa imagem de seu lugar
mítico para o campo dos símbolos, é a força que impulsiona e
alinha a mostra do artista, ao evocar a banalização do horror como
uma ontologia da imagem e a evocação do erótico como novo
significado dessa imagem em relação à finitude do ser, ao por o
coração despido do corpo, se oferecendo para ser devorado como
qualquer outra fina iguaria.
Irreverente, esta mostra adquire a dimensão de manifesto ao
denunciar que palavras como espírito e coração perderam
seus significados ou buscam outros, uma vez que ambos,
coração e espírito, no universo do artista, aparecem
totalmente dissociados do corpo."

Marcelo Ariel, escritor e dramaturgo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Restauros

a luz

A luz é símbolo e agente de pureza. Onde a luz não tem nada a fazer, nada a unir ou nada a separar, passa.

Novalis, "Fragmentos"